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"Não há solução para a questão fiscal sem crescimento e geração de emprego" afirma economista.

02 Fevereiro 2018

“Você não vai ter solução para a questão fiscal se a economia não voltar a crescer. Sem que a economia comece a gerar renda e emprego”, afirmou o economista e professor brasileiro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista ao jornal Valor Econômico, ao avaliar a profunda crise que atravessa o Brasil.

Segundo ele, não há soluções milagrosas para vencer a atual recessão. “Não adianta ficar discutindo se a economia vai crescer 0,5% ou 1%; precisa resolver o problema das pessoas de carne e osso, o desemprego, ou vai para uma solução radical. Em uma sociedade fortemente urbanizada, a miséria é muito dolorosa. Veja o aumento da criminalidade. Alguém acha que resolve a criminalidade só com a polícia?”, questionou.

Para Belluzzo, que foi consultor pessoal para assuntos econômicos durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “é preciso dar segurança econômica para as pessoas, senão elas resvalam para outro tipo de atividade. Mas uma fração graúda da opinião dominante não tem essa consciência e isso é perigoso. Vai na direção de uma solução autoritária que "resolva o problema".


Efeito reforma trabalhista

O economista elencou os danos com a aprovação da reforma trabalhista e alertou que, diferentemente do defendido, ela só ampliará a precarização.

“A reforma trabalhista por exemplo vai, inexoravelmente, aumentar a precarização do trabalho e o trabalho temporário. Vai aumentar o emprego? Precário, temporário, em condições de sofrimento pessoal e social”, atestou.

Durante a entrevista, Belluzzo lembrou que o Brasil ficou fora de qualquer concepção de Estado de bem-estar social até a Constituição de 1988 e com reformas como essa, fica cada vez mais distante uma retomada do crescimento com valorização do trabalho e melhoria social.


O desafio da reindustrialização

Ao abordar o cenário de desindustrialização, Belluzzo foi taxativo com o campo que defende que com a revolução tecnológica, a indústria terá menos peso.

“Então vamos nos dedicar à produção de bananas?”, questionou o economista.

Ele lembra que “estamos na era da hiperindustrialização e isso agrava a situação do Brasil. Os métodos da indústria invadiram os serviços e o agronegócio. O câmbio valorizado já fez o papel dele, negativo. Na situação atual é preciso olhar para nossa posição relativa. Falo da China. Eles estão léguas de distância do Brasil, fizeram tudo ao revés do que nós fizemos”.

E completou: “A reindustrialização, portanto, não é uma coisa banal, é algo muito mais complexo do que a dos anos 30 aos 70 do século passado. Vai exigir uma estratégia muito mais abrangente. Temos espaços, por exemplo, na infraestrutura, se tivermos competência para montar projetos eficientes com articulação privada e até mesmo com a intensificação das operações com os chineses.”


Papel do BNDES

Para ele, a retomada passa pela participação dos diferentes setores (públicos e privados). “Acham que se o BNDES sair, o setor privado vai financiar com prazos e taxas reais razoáveis um empreendimento de 30 anos? Não, porque aí mata a taxa interna de retorno do empreendimento. Os chineses financiaram a infraestrutura deles; foi com gasto público do governo central? Não. Usaram os bancos públicos, que financiaram, com taxas baixas, as empresas estatais, que demandam bens e serviços das empresas privadas. É um gasto parafiscal. Estado e mercado não se opõem, mas se complementam. É difícil imaginar que no Brasil de hoje possa ocorrer coisa parecida”.

O debate deve ser de longo prazo

Belluzzo avalia que o problema é que o debate, hoje, se concentra em questões de curto prazo.

“Estamos aprisionados nesse debate de curto prazo. É aflitivo. Para os economistas do mercado as estruturas voltadas para o desenvolvimento não existem, porque o mercado é o mercado em qualquer lugar. Estão apoiados em suposições de que o mercado é eficiente, não há o que fazer, não há por que gastar os neurônios, já escassos, em uma estratégia de reconstrução estrutural. Isso lembra uma série de televisão dos anos 60, Papai [o mercado] sabe-tudo.”



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